Tem coisa que eu devia guardar pra mim #6
cultivando a adulta intolerante que eu me tornei
Eu fui uma adolescente audaciosa.
Demora um pouco pra gente perceber isso. A maior parte das pessoas acha que ser diferentona na adolescência é muito disruptivo. Eu detesto cor de rosa. Prefiro ser amiga de meninos. Não gosto de música pop. Cabelo da cor natural? Eca. Nasci na época errada. Minha sala é muito imatura.
E é lógico que eu também tinha essa opinião. Parecia muito legal ser uma adolescente tão descolada. Só que eu simplesmente não conseguia e isso fazia com que eu me sentisse brutalmente desinteressante. Foi só quando me tornei professora que me dei conta de que a busca pelo diferente acabava tornando todo mundo igual.
A passagem para a vida adulta finalmente me fez entender que eu, adolescente que insistia em não esconder das coisas que gostava, era muito audaciosa.
O revival de Sandy e Junior no ano de 2019 e agora o do RBD em 2023, mostrou que tinha um monte de gente da minha idade que também gostava disso. Mas eram pouquíssimas pessoas que tinham coragem de assumir. Não à toa, a maior parte dos meus amigos (e os que permanecem) veio pela internet.
No fim das contas, estranha não era a menina que curtia música alternativa e tinha cabelo azul. Ela era cool. Estranha era eu que não tinha vergonha de dizer que era fã de Sandy e Junior e RBD no Ensino Médio.
Não tem nada mais esquisito do que não se importar em ser igual a maioria.
Agora, veja bem, se EU, pessoa que enfrentou a adolescência (fase que eu considero a mais cruel da vida) sem medo de ser julgada porque gostava de coisa de adolescente, vou me preocupar em agradar alguém com meus próprios gostos AGORA?
Acho que o maior empoderamento da vida adulta vem quando você se dá conta de que tá todo mundo completamente fodido. A única coisa que divide os seres humanos nessa fase da vida é quem tem dinheiro ou não. De resto: ninguém sabe o que tá fazendo. Ninguém é feliz o suficiente. Ninguém é seguro o suficiente. Ninguém é descolado o suficiente.
Quando existem esses grandes movimentos de pessoas adultas, especialmente mulheres, permitindo-se surtar com reencontros de bandas e filmes da Barbie, sempre tem alguém que lança um “ai não entendo esse surto coletivo”.
Venha cá que eu te explico:
São só pessoas se PERMITINDO gostar agora, de coisas que não PODIAM assumir que gostavam durante a adolescência e infância porque sempre tinha uma galera chata do caralho cagando regra de como as pessoas deveriam ser.
E quando a gente é muito jovem essa opinião importa pra cacete. Mas agora, adultos, com boletos para pagar, burnout batendo na porta e um grande foda-se ligado: qualquer um pode gostar do que quiser.
Por isso eu me tornei uma adulta completamente intolerante a quem menospreza gostos e vontades alheios: pra honrar a Carolininha de 13 anos que namorou ORGULHOSAMENTE o Junior Lima durante toda adolescência (só que ele não sabia).
E neste exato momento eu sou uma adulta muito realizada por ter garantido meu ingresso pro show do RBD e pro da Alanis Morissette porque poder gostar de tudo e qualquer coisa sempre foi libertador.
Qualquer hora eu volto.