Eu finalmente entendi porque tô escrevendo menos.
Porque eu sou uma vendida, né? O mundo mudou e as pessoas simplesmente não leem mais. Lembra de quando a gente tava na escola e tinha aquele coleguinha que não gostava de ler (que talvez seja até você) e perguntava se tinha bastante figura no livro paradidático? Hoje as pessoas não veem nem as figuras. Até o Instagram acabou virando uma plataforma de vídeo. E foi isso que aconteceu comigo.
Eu tinha o costume de andar com um caderninho debaixo do braço escrevendo todas as minhas ideias para textos e histórias aleatórias. (Inclusive porque naquela época a gente não tinha um smartphone decente pra fazer esse tipo de anotação). E agora eu faço isso no notas do meu celular, só que ao invés de virar texto acaba virando um vídeo no tiktok.
E por que isso acontece? Porque eu preciso me adaptar pela audiência. Só que gravar um vídeo dá muito mais trabalho do que escrever um textão. Eu preciso estar minimamente arrumada, com uma luz boa, com tempo, com silêncio. Antes eu simplesmente sentava por 15 minutos, mesmo que num barulho dos infernos parecendo uma coitada e o texto nascia.
Ah, mas grandes escritoras escrevem pra elas e não pros outros. Foda-se. Eu escrevo pros outros mesmo. Qual a graça de escrever se as pessoas não vão ler? E assim, como monetizar meus textos se não compilar tudo e colocar dentro de um livro digital ? (coisa que eu já fiz).
E daí aconteceu o seguinte em janeiro: o tiktok me monetizou. Ele me autorizou a postar vídeos com mais de 1 minuto e disse que pagaria R$0,14 por mil visualizações. Como eu criei uma série que ano passado deu 1M visualizações eu pensei: porra, tô rica agora.
Só que esse aplicativo vagabundo é que nem dono de startup. Ele me autoriza a monetizar, me da ali um xbox e uma pizza às 23h da sexta-feira enquanto eu trampo, mas AGORA QUE EU POSSO GANHAR COM ISSO, ele simplesmente não entrega meus vídeos.
Eu escrevi, produzi, atuei e editei a segunda temporada da série e ele simplesmente não entregou para mais de 400 pessoas cada episódio. OU SEJA, TRABALHEI DE GRAÇA DE NOVO.
Então você me pergunta: tá contando isso aqui por quê?
Não deu pra entender? Já que eu to perdendo tempo gravando vídeo pra ganhar dinheiro e não to ganhando nada, prefiro escrever porque agora to aqui toda rançosa de academia, descabelada, com meus cachorros latindo horrores e vocês nem saberiam disso. Essa é a mágica da escrita.
Esses dias eu tava conversando com uma amiga sobre um negócio que há vários anos eu chamo de Complexo Regina George.
Se você não tem a referência é melhor ir assistir ao filme antes de continuar. A Regina é a menina popular da escola que todo mundo idolatra e que, provavelmente, te humilhou. E daí você detesta ela. Porque ela é padrão. Porque ela não é feminista. Porque ela é rica. Só que em algum momento da sua vida, algo acontece e de repente você pertence a um grupo.
Em geral isso rola na vida adulta, porque a pressão da escola não existe mais. Os valentões se acovardaram. As lindas sofreram o glow down e você que tava no fundo do poço, finalmente ressurgiu. E daí, dentro do seu grupinho, você finalmente se torna ela, a Abelha Rainha.
Eu acho engraçado que minhas alunas tinham a impressão de que na vida adulta tudo muda, mas a real é que a gente continua vivendo numa enorme quinta-série até o fim das nossas vidas, só que agora pagando nossas próprias contas.
Voltando ao raciocínio: agora que você está segura dentro de um grupo, você pode fazer exatamente o que faziam com você. Só que como nós somos adultas e pode dar processo os comentários ficam entre a gente. E é bom estar incluída. É quase viciante.
Eu fui uma piranha detestável na faculdade justamente porque segui o padrão:
Que loucura é o ciclo da vida, não é mesmo? Agora eu sou justamente a Carol de 5 anos que deixava todo mundo brincar com meus brinquedos enquanto ninguém me deixava participar da brincadeira. Só que ALÉM DE TUDO, EU AINDA PAGO CONTA.
Daí voltando à conversa com a minha amiga, a gente chegou à conclusão de que eu percorri o caminho muito rápido. Eu fui de humilhada para jovem escrotinha na época da faculdade. Então logo que eu me formei eu voltei a ser a tonta.
Só que na vida da mulher adulta de 30 anos eu ainda tenho que conviver com gente que tá na etapa anterior. POR ISSO EU TO TOMANDO TANTO NO CU.
Eu preciso parar de ser boazinha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Será que tá dando pra entender? Vou desenhar de novo:
Eu preciso dar um passo para trás para encontrar o equilíbrio.
Escrota o suficiente pra não ser humilhada.
Tonta o suficiente pra não ser escrota demais.
Literalmente a Regina George, só que no final do filme. Arregaçada, linda e medicada.
Essa semana eu acordei precisando fazer uma renda extra. Daí eu ressuscitei essa news que além de consumir o meu tempo, não me traz nenhum centavo. Mas eu sou conhecida por tomar decisões idiotas sob pressão. Até semana que vem. Se você resolver assinar.